12 anos de escravidão

Título Original: 12 years a slave
País: EUA
Direção: Steve McQueen
Roteiro: John Ridley
Elenco Principal: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupta Nyong'o, Paul Dano, Brad Pitt e Paul Giamatti.
Estreia no Brasil: Fevereiro de 2014




Um filme cuja ideia não é passada somente através de seu protagonista mas sim em cada uma das suas interessantíssimas personagens que compõe um quadro geral daquele comportamento social à época da escravidão, e que facilmente pode se estender até o mundo contemporâneo. Ainda sim, conta-se uma história, com maestria e seu devido peso social, mas não nos deixa uma mensagem como consegue por exemplo Fruitvalle Station - A última parada, que faz uma profunda discussão sobre o estado em que se encontra o racismo hoje em dia a partir da história de um jovem negro norte americano (e também é baseado em fatos reais).

O roteiro narra a saga de Solomon Northup (Ejiofor), um homem negro, nascido livre, que é sequestrado e vendido como escravo para a região sul dos Estados Unidos. Baseado no livro escrito pelo próprio Northup, conta-nos sua luta por sobrevivência aos longos dos 12 anos que viveu aprisionado, passando pelas mãos de vários e distintos mestres.

À medida que conhecemos cada uma das personagens que cruzam o caminho de Solomon, o longa acaba fazendo um panorama das personalidades comuns à época da escravidão, mostrando os diferentes caracteres manifestados nas diversas formas que havia em se lidar com o abominável domínio de um semelhante, mantendo-se extremamente atualizado com a nossa sociedade atual que permanece racista; ora explícita, direta ou indiretamente, ora de forma imperceptível.

Assim, vemos na personagem de Cumberbatch por exemplo, a representação daquele que de alguma forma sente e percebe a injustiça, mas se deixa levar pela correnteza, como homem fraco que não consegue sobrepor sua compaixão ao papel que sua sociedade lhe obriga a cumprir. Já o mestre Epps (Fassbender) evidencia a tradicional repugnância da maioria dos brancos, espalhando sua arrogância e crueldade até mesmo na maneira como cria as suas justificativas para uma condição inferior para a raça negra. Cada um desses estereótipos podem ser trazidos à luz dos dias atuais sem mais dificuldades.

O diretor McQueen não faz uso de nenhuma técnica revolucionária, ou desenvolve uma conduta de cenas que seja memorável do ponto de vista cinematográfico. Acerta muito bem ao utilizar alguns cortes longos, de forma que nos representa mais organicamente e realisticamente todo o cenário envolto à trama local. Veja a cena onde a câmara percorre diferentes cômodos da casa onde a personagem de Paul Giamatti expõe seus escravos à venda, ou o plano aberto que registra a rotina de uma fazenda acontecendo naturalmente enquanto um negro se sustenta por horas sob a ponta dos pés com o pescoço preso a uma corda. Ainda sim, embora o ponto de vista adotado por McQueen seja o de manter Solomon em um razoável anonimato, identificando sua história com a de inúmeros outros injustiçados, o desfecho parece correr de mais. Isso mostra uma certa insensibilidade com os sentimentos de Solomon ao reconquistar sua liberdade, indiciando uma maior preocupação do diretor em simplesmente expor a tortura pura e generalizada da escravidão.

E no alvo de toda essa violência encontramos o protagonista criado por Ejiofor, que nos conta muito de suas angústias somente pelo olhar que se esforça por aceitar sua condição, ainda que incrédulo com tamanha injustiça, acreditando um dia poder estar de volta com sua família. Toda essa força é contrastada com a bela encarnação que Nyong'o faz de uma jovem escrava cobiçada e abusada por seu mestre. Ao contrário de Northup, ela não tem esperança e não enxerga um mundo fora das correntes, vendo dignidade maior em morrer pelas mãos de seus companheiros que viver sob a custódia brutal de seus tempos.

É por isso que 12 anos de escravidão assume um papel tão importante e nunca antes visto no cinema. Pela anonimidade que Solomon Northup representa, sendo sua história a vida de todos os negros humilhados por aquela arrogância que ainda rasteja entre nós. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário